Você já ouviu falar sobre a Joaninha de Barro? Possivelmente não. Há pouco tempo nós também não havíamos pensando sobre isso. Sabíamos que o pássaro João de Barro era conhecido pela sua habilidade e disposição com a construção de ninhos de barro em forma de forno. Mas, ao pesquisarmos, descobrimos que ele, junto com sua companheira Joaninha de barro, constrói suas casas sempre viradas para o a nascer do sol, protegendo assim sua família da chuva.
Ele não fazia o trabalho sozinho, mas, com sua companheira, fiel, habilidosa e sábia como ele, construindo a proteção da família e sempre pensando no futuro, mesmo nos dias mais bonitos e ensolarados, mas cientes de que haveriam dias de chuva e de ventania, que também possuíam sua beleza, mas, que necessitavam de preparo prévio, por isso, sempre posicionavam suas casas de forma estratégica.
Inspiradas nisto, a equipe do Instituto João de Barro constrói a proposta do grupo de mulheres Joaninha de Barro, trazendo como objetivo o fortalecimento de um espaço coletivo que promove proteção, referência de orientação e cuidado e desenvolvimento de novas habilidades que auxiliem as mulheres na construção de estratégias, de resistências e de vínculos familiares e comunitários para o enfrentamento das vulnerabilidades.
O grupo surgiu em setembro de 2022, abrindo espaço para conversa sobre a valorização da vida com as mulheres que já são usuárias do Programa do Leite. Nos surpreendemos com a sintonia dessas mulheres durante o encontro e, mês após mês, isso se confirmava. Suas histórias são diversas, mas há no grupo um espaço seguro para falar sobre elas, para dividir as dores e as forças vividas durante os anos.
“[…] esse grupo é maravilhoso […]”. Sempre ouvimos relatos parecidos sobre a experiência de grupo proporcionado no Joaninha de Barro e entendemos que é um lugar importante para as mulheres que, sozinhas, possuem uma relação de sobrecarga com as múltiplas jornadas de trabalho que vivenciam, principalmente relacionados com o cuidado com a família e os afazeres domésticos, além de que a mulher também desempenha outros trabalhos em suas profissões, causando uma sobrecarga ao tentar atender a diferentes demandas dos diversos papéis que exerciam: trabalhadora, mãe, esposa, dona de casa, filha.
A literatura traz que na pandemia houve uma intensificação dessa sobrecarga, visto que houve também uma potencialização da responsabilidade de cuidado da mulher com a higienização da casa e a saúde da família, o que a afetou emocionalmente, gerando adoecimentos como ansiedade e depressão. Há também relatos de que os ciclos de violência se intensificaram nas famílias durante o isolamento social da pandemia, pois as mulheres que já eram vítimas de algum tipo de violência precisaram conviver mais tempo com seus companheiros, possíveis agressores, além disso, as mesmas sentiram mais dificuldades de acessar os serviços de políticas públicas e a rede de proteção.
“Suas histórias são diversas, mas há no grupo um espaço seguro para falar sobre elas, para dividir as dores e as forças vividas durante os anos.”
Diante disso, o grupo de mulheres Joaninha de Barro se estabelece como espaço de acolhimento das diversas demandas das mulheres do território, como também, a construção de lugar de referência de cuidado e proteção das mulheres usuárias dos serviços do Instituto João de Barro, sendo através deste, a orientação, socioeducação e o fortalecimento dos vínculos comunitários, contribuindo com Ações para um mundo melhor.